Cantar a Páscoa do Senhor:


Páscoa é tempo de alegria e júbilo, para entoar cantos de festa em honra de Cristo Ressuscitado. O Tempo Pascal começa na Vigília Pascal e termina com a solenidade de Pentecostes. Os cantos e instrumentos terão participação fundamental. Sejam cantados e tocados com alegria, com entusiasmo, vibrantes. Valorizar os cantos do ordinário da missa principalmente o canto do aleluia. Os cantos devem nos ajudar a fazer uma experiência profunda do Mistério Pascal. O canto neste tempo é um canto de alegria, canto de tantos aleluias! Canto de vitória! Mas cuidado acabamos de sair de um tempo penitencial, sóbrio, onde os instrumentos estavam bem suaves e discretos, agora é possível que os instrumentos retornem com alegria e vivacidade, mas não devem extrapolar, cobrir o canto do povo, os instrumentos deve estar alegres, em tom, ritmo e andamento, mas com discernimento do instrumentista em tocar com a assembleia e não cobrir o canto da mesma.




Cantar o tempo da Quaresma 

Cantar a Quaresma é, antes de tudo, cantar a dor que se sente pelo pecado do mundo que, em todos os tempos e de tantas maneiras, crucifica os filhos de Deus e prolonga, assim, a Paixão de Cristo... É um canto de luto, um canto sem "glória" e sem "aleluia", um canto sem flores e sem as vestes da alegria, um canto "das profundezas do abismo" em que nos colocaram nossos pecados" (Salmo 130); um grito penitente de quem implora e suplica: "Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade e, conforme a vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade" (Hin. Litúrgico - 2, introdução). 



O tempo da Quaresma, ou os 40 dias de antecedência à Páscoa, convida a um tempo de abstinência e penitência para honrar o jejum de Jesus como lemos em Mateus 4,2: "Jesus retirou-se ao deserto... Jejuou 40 dias e 40 noites"; em Lucas, 5,34-35, Jesus pergunta: "Podeis fazer jejuar os convidados ao casamento enquanto o noivo está com eles? Chegará o dia em que jejuarão". A Quaresma lembra, também, o jejum de Moisés no Sinai; Êxodo, 24,18: "Moisés penetrou dentro de uma nuvem enquanto subia a montanha, e permaneceu ali 40 dias e 40 noites". 

No calendário litúrgico da Igreja Católica, estamos entrando no Tempo Quaresmal, que vai da quarta-feira de cinzas até a Missa da Ceia do Senhor. É o tempo para preparar a celebração da Páscoa ou a Ressurreição do Senhor. Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica, deve-se esclarecer melhor a dupla índole do Tempo Quaresmal que, principalmente pela lembrança ou preparação do Batismo e pela penitência, faz os fiéis ouvirem com mais frequência a Palavra de Deus e entregarem-se à oração, dispondo-se, assim, para a celebração do mistério pascal.

A quarta-feira de cinzas lembra-nos o seu verdadeira significado, do hebraico èfer, resíduo da combustão dos sacrifícios queimados (Ex 9,8) e a nugacidade da vida na busca das vaidades terrenas. 

A cinza, por sua leveza, é imagem das coisas frágeis e efêmeras. Ao recebermos a cinza em nossas cabeças nos é dito: "Lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás de tornar" (Gn 3,19). É também a cinza meio de morte e castigo, como lemos em 2Mac 13,1-18, quando o Sumo Sacerdote prevaricador, Menelau é lançado de uma torre cheia de cinzas, onde morre asfixiado. "Isso, diz Macabeus, era muito justo, pois ele havia cometido muitos pecados contra o altar, cujo fogo e cinza são puros. 

E na cinza ele encontrou a morte." Abraão, intercedendo diante do Senhor a favor de Sodoma e Gomorra, ele diz: "Sou bem atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza" (Gn 18,27); e Jó 30,19 clama: "Arremessam-me ao lodo e eu me confundo com a poeira e a cinza". É a Palavra de Deus que nos convida, assim, nesta Quaresma, a buscarmos na penitência e na nossa pequenês e enormidade de nossos pecados a Vida de Deus numa conversão autêntica e duradoura seguindo a luz do Evangelho. Lembra-te que és pó!...



Princípios teológicos do canto litúrgico

1 – Inspiração Bíblica - Não se pode dissociar vida, música, celebração, bíblia. Pode-se? Não. É na intuição do Mistério de Cristo no cotidiano das pessoas e grupos humanos, que o autor e compositor litúrgico encontra a sua fonte primeira de inspiração. O Mistério de Cristo precisa ser vivido e descoberto no dia a dia. 

2- Revela, segundo a cultura, a Encarnação - A Música Litúrgica reflete o Mistério da Encarnação do Verbo. Ela brota da vida da comunidade de fé. Em que sentido? Ela tem as características culturais da música de cada povo ou região. A cultura influencia na preferência dos gêneros musicais. 

3 – Louvar com gêneros musicais diferentes de cada povo – Então se pode cantar qualquer canto na missa desde que seja oração? Não. A diversidade de preferências precisa estar de acordo com o mistério celebrado e o modo como deve ser celebrado Deve-se buscar na cultura os gêneros musicais que melhor se encaixem na variedade dos tempos litúrgicos, das festas e dos vários momentos ou elementos rituais de cada celebração. 

4 – Memorial – A Música Litúrgica é canto, são palavras, melodias, ritmos, harmonias, gestos, dança… que recordam fatos salvífico. As melhores composições são aquelas produzidas com forte inspiração bíblica. A música litúrgica é memorial. 

5 – Penetra o mistério – A Música Litúrgica leva a comunidade celebrante a penetrar no Mistério de Cristo. Que significa penetrar o mistério de Cristo? Penetrar o mistério significa aprofundar-se no conhecimento dele. A música litúrgica deve levar a isto. Deve ajudar a pessoa a se aprofundar e a experimentar qual seja a largura, o comprimento, a altura, a profundidade… do amor de Cristo, que ultrapassa todo conhecimento (Ef 3,18-19). No entanto, sua plenitude é incompreensível ao conhecimento humano. É um mistério que, mais do que ser compreensível, plenifica o coração. 

6 – Conforta – A Música Litúrgica brota da ação do Espírito Santo, que suscita na assembléia celebrante o fervor e a alegria. Não de certa tristeza, por vezes? Provoca também em quem canta uma atitude de esperança, apesar de todo tipo de opressão, exclusão e morte. A Música Litúrgica expressa a esperança de um novo céu e uma nova terra (Ap 21,1; cf. Is 65,17).


             Princípios litúrgico-pastorais do canto litúrgico

1- É oração com a Trindade – A Música Litúrgica traz consigo o selo da participação comunitária em comunhão com a Trindade. Quem reza na Assembléia: Jesus ou a assembléia? A assembléia celebrante louva e agradece, suplica e oferece através do Sumo Sacerdote, Jesus Cristo.

2- Grandes feitos – Com palavras, música e dança a assembléia celebrante proclama os grandes feitos daquele que nos chama das trevas a sua luz maravilhosa (1 Pd 2,9). É feita pelo presidente da assembléia? Esta proclamação é feita pela assembléia e por aqueles que exercem diferentes ministérios nas celebrações. Todos, conforme o momento litúrgico e o modo previsto pela igreja.

3- Diversidade ministerial – Quantas pessoas exercem funções diferentes numa celebração eucarística, por exemplo? Normalmente, são várias. Os cantores exercem uma dessas funções, junto com a Assembléia. A Música Litúrgica manifesta o caráter ministerial da Igreja. No corpo de Cristo, a Igreja, há funções diferentes, exercidas de forma orgânica e sem perder de vistas a unidade convergente. Já percebeu como na harmonia do desenvolvimento da celebração, nem todos, a todo momento, fazem tudo? Exatamente. Todavia, todos comungam a mesma fé, vibram na mesma alegria, cantam em uníssono ou de modo polifônico, se balançam no mesmo ritmo, celebram em harmonia. Todos estão em torno da mesma Palavra.

4- Requer sensibilidade do animador do canto – Cabe ao animador do canto litúrgico, a sensibilidade e a sensatez, na escolha dos cantos, assim como no aprendizado e na utilização do repertório mais conveniente. É sempre observada esta sensibilidade? Nem sempre, mas ela é necessária. Na escolha e formação do canto litúrgico deve-se levar em conta os ambientes sociais e culturais, as vivências e contingências do cotidiano, as possibilidades e limitações de cada assembléia. O animador do canto precisa ter a sensibilidade de perceber quando e como fazer. No culto público da comunidade cristã os corações devem estar em sintonia.

5- Reflete a comunhão de sentimentos – A Música Litúrgica é momento de solidariedade na assembléia celebrante. A solidariedade diz respeito apenas à assembléia? Não. Diz respeito a esta assembléia e à Igreja. Reflete as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo e das demais as pessoas. Portanto, a música litúrgica é solidária.



Princípios estéticos do canto litúrgico.


A música litúrgica relaciona-se com o belo, com a harmonia, com a estética que devem auxiliar na contemplação do mistério divino.

Vejamos alguns princípios estéticos que devem estar presentes no canto litúrgico.


1-Utiliza elementos simbólicos – O canto litúrgico, em todos os seus elementos, palavra, melodia, ritmo, harmonia… participa da natureza simbólica e sacramental da celebração do mistério pascal de Cristo. Em que momento do ano ele é celebrado? É celebrado o ano inteiro, de acordo com o tempo do ano litúrgico e suas festas. Através de gestos e sinais, os participantes da liturgia o revivem e externam o que está no coração.


2- Privilegia linguagem poética – A Música Litúrgica privilegia a linguagem poética. Por qual motivo? Porque é a que mais se ajusta ao caráter simbólico da Liturgia. Não se deveria privilegiar textos explicativos? Na música deve haver um toque de poesia, de linguagem do coração. Evitem-se priorizar textos de cunho explicativo ou didático, textos doutrinários, catequéticos, moralizantes ou ideologizantes, estranhos à experiência propriamente celebrativa. Música e texto formam o canto litúrgico.


3- Prioriza texto – A Música Litúrgica dá relevância ao texto, à letra, colocando tudo mais a serviço da plena expressão da palavra, de acordo com os momentos e elementos de cada rito. Há algum problema se a música é bonita mas o texto não muito adequado para certo momento litúrgico? Deve-se celebrar de modo adequado. Há textos apropriados para a abertura, para a aclamação ao Evangelho, para a Comunhão, enfim, para cada momento da celebração. Da mesma forma há textos adequados para o Advento, para a Quaresma, para o tempo Pascal e para os demais. A finalidade do texto e da música é, portanto, realçar a Palavra, emprestando-lhe sua força de expressão e motivação.


4- Deve existir harmonia entre palavra e música – A Música Litúrgica deve realizar perfeita combinação entre o texto e a música. Em que consiste na prática esta simbiose? Consiste, entre tantos outros aspectos, que o texto seja composto de tal maneira que, no mínimo, a métrica e a cadência dos versos, bem como os acentos das palavras sejam convenientemente levados em conta pela música, evitando-se descompassos, desencontros e dissonâncias entre o embalo da música e a cadência dos versos ou os acentos de cada palavra. Letra e música devem estar em harmonia. 

5- Não depende de arranjos rebuscados –         A Música Litúrgica prescinde de tensões harmônicas exageradas. É dispensável o preciosismo de acordes no acompanhamento das músicas litúrgicas. Já observou como é o cato gregoriano? Pois é. O canto gregoriano e a grandiosidade da polifonia sacra continuam sendo referenciais inspiradores para quem se dedica a fazer litúrgico-musical. Favorecem a celebração. Autores, animadores e intérpretes da música litúrgica devem favorecer a celebração do mistério de Cristo.

6- Fidelidade à inspiração do autor – A Música Litúrgica, ao ser executada, embora se destine a ser expressão autêntica de tal ou qual assembléia, deve manter-se fiel à concepção original do autor. Essa originalidade está expressa na partitura. Não se levando em consideração o contexto em que foi concebida, corre-se o risco de se perder as riquezas originais da sua inspiração e, conseqüentemente, empobrecer-lhe a qualidade estética e densidade espiritual. Sem contar aqui certos improvisos ou invenções de intérpretes que nem sempre contribuem para a concentração da assembléia no mistério celebrado.

7- Beneficia-se com formação litúrgica – A música litúrgica tem princípios. Precisa ser entendida, aprendida e ensinada. Entretanto, como aprender se ninguém ensina ou não se busca? É verdade. Depende tanto do interesse pessoal e como dos responsáveis. Os responsáveis por este múnus não devem se omitir. “Quem é o administrador fiel e atento, que o Senhor encarregará de dar à criadagem a ração de trigo na hora certa? Feliz aquele servo que o Senhor, ao chegar, encontrar agindo assim!” (Lc 12,42-43). Não se pode descuidar da formação litúrgico-musical da assembléia.





                                 A MÚSICA SACRA NA SACROSANCTUM CONCILIUM 




Importância para a Liturgia 

112. A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene. 

Não cessam de a enaltecer, quer a Sagrada Escritura (42), quer os Santos Padres e os Romanos Pontífices, que ainda recentemente, a começar em S. Pio X, vincaram com mais insistência a função ministerial da música sacra no culto divino. 

A música sacra será, por isso, tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à acção litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como factor de comunhão, quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas. A Igreja aprova e aceita no culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades requeridas. 

O sagrado Concílio, fiel às normas e determinações da tradição e disciplina da Igreja, e não perdendo de vista o fim da música sacra, que é a glória de Deus e a santificação dos fiéis, estabelece o seguinte: 

113. A acção litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada de modo solene com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação activa do povo. 

Observe-se, quanto à língua a usar, o art. 36; quanto à Missa, o art. 54; quanto aos sacramentos, o art. 63; e quanto ao Ofício divino, o art. 101. 

                                   

                                                    Promoção da música sacra 

114. Guarde-se e desenvolva-se com diligência o patrimônio da música sacra. Promovam-se com empenho, sobretudo nas igrejas catedrais, as «Scholae cantorum». Procurem os Bispos e demais pastores de almas que os fiéis participem ativamente nas funções sagradas que se celebram com canto, na medida que lhes compete e segundo os art. 28 e 30. 

115. Dê-se grande importância nos Seminários, Noviciados e casas de estudo de religiosos de ambos os sexos, bem como noutros institutos e escolas católicas, à formação e prática musical. Para o conseguir, procure-se preparar também e com muito cuidado os professores que terão a missão de ensinar a música sacra. 

Recomenda-se a fundação, segundo as circunstâncias, de Institutos Superiores de música sacra. 

Os compositores e os cantores, principalmente as crianças, devem receber também uma verdadeira educação litúrgica. 

116. A Igreja reconhece como canto próprio da liturgia romana o canto gregoriano; terá este, por isso, na ação litúrgica, em igualdade de circunstâncias, o primeiro lugar. 

Não se excluem todos os outros gêneros de música sacra, mormente a polifonia, na celebração dos Ofícios divinos, desde que estejam em harmonia com o espírito da ação litúrgica, segundo o estatuído no art. 30. 

117. Procure terminar-se a edição típica dos livros de canto gregoriano; prepare-se uma edição mais crítica dos livros já editados depois da reforma de S. Pio X. 

Convirá preparar uma edição com melodias mais simples para uso das igrejas menores. 

118. Promova-se muito o canto popular religioso, para que os fiéis possam cantar tanto nos exercícios piedosos e sagrados como nas próprias ações litúrgicas, segundo o que as rubricas determinam.

                                                      

Adaptação às diferentes culturas 

119. Em certas regiões, sobretudo nas Missões, há povos com tradição musical própria, a qual tem excepcional importância na sua vida religiosa e social. Estime-se como se deve e dê-se-lhe o lugar que lhe compete, tanto na educação do sentido religioso desses povos como na adaptação do culto à sua índole, segundo os art. 39 e 40. Por isso, procure-se cuidadosamente que, na sua formação musical, os missionários fiquem aptos, na medida do possível, a promover a música tradicional desses povos nas escolas e nas ações sagradas. 



                                                   Instrumentos músicos sagrados 

120. Tenha-se em grande apreço na Igreja latina o órgão de tubos, instrumento musical tradicional e cujo som é capaz de dar às cerimônias do culto um esplendor extraordinário e elevar poderosamente o espírito para Deus. 

Podem utilizar-se no culto divino outros instrumentos, segundo o parecer e com o consentimento da autoridade territorial competente, conforme o estabelecido nos art. 22 § 2, 37 e 40, contanto que esses instrumentos estejam adaptados ou sejam adaptáveis ao uso sacro, não desdigam da dignidade do templo e favoreçam realmente a edificação dos fiéis. 

Normas para os compositores 

121. Os compositores possuídos do espírito cristão compreendam que são chamados a cultivar a música sacra e a aumentar-lhe o patrimônio. 

Que as suas composições se apresentem com as características da verdadeira música sacra, possam ser cantadas não só pelos grandes coros, mas se adaptem também aos pequenos e favoreçam uma ativa participação de toda a assembleia dos fiéis. 

Os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina católica e inspirar-se sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas. 


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